30 de jan. de 2011

Hino Esperando em Deus

HARMONIZADO POR BACH, HINO REVELA CENÁRIO HÓSTIL AOS PROTESTANTES

Muitos compositores eruditos, como Félix Mendelssohn e Wolgang Amadeus Mozart, contribuíram para a formação musical da nova igreja que surgiu como resultado da Reforma Protestante, liderada por Martinho Lutero. E o virtuose organista Johann Sebastian Bach, compositor mais lembrado do período barroco, foi um deles.

Composta pelo músico francês e teórico musical do Renascimento, Louys Bourgeois, para o Saltério de Genebra, em 1551, a obra “Freu' Dich Sehr o Meine Seele” - “Esperando em Deus”, do Hinário Novo Cântico ( HNC – Nº118) – passou pelas mãos do organista alemão que, ao final de sua vida foi acometido por uma cegueira.

Bach harmonizou este hino para a inclusão na Cantata nº39, escrita para o primeiro domingo após a Trindade, em 1732, e utiliza textos de Isaías 58.7-8 e Hebreus 13.16. Intitulada “Tragam para os famintos o seu pão”, a peça revela o cenário hóstil de Salzburgo. Os protestantes eram, severamente, perseguidos e muitos deles se refugiaram nas igrejas reformadas. A versão adotada pela Igreja Presbiteriana do Brasil possui quatro estrofes, sem refrão e, apresenta uma estrutura melódica simples.

No entanto, quanto às vozes do baixo, tenor e contralto, a música revela pequenos trechos que necessitam de certa atenção por parte do instrumentista. Ao longo da obra, surgem seis fermatas atribuídas às notas de um tempo, ainda no meio dos versos, o que pode confundir o músico e o coro, caso o tempo não seja seguido. O organista J.S. Bach forneceu um infindável repertório musical para o serviço da igreja como, oratórios, paixões, missas, motetos, prelúdios corais, árias religiosas e cantatas. O poema de “Esperando em Deus”(HNC), baseado em Salmos 42, foi metrificado por Manoel da Silveira Porto Filho. Wellerson Cassimiro.

27 de jan. de 2011

Livro "Um Amor, Um Verão e o Milagre da Vida" - Isa Colli

Sem sombra de dúvidas, o dom da vida é o melhor presente concedido por Deus. Ficamos receiosos de adquirir alguma doença ou de sofrermos qualquer tipo de acidente que nos possa ceifar do convívio de nossos amigos e entes queridos. A vinda da morte sempre é uma surpresa, pois não a compreendemos. Em seu livro “Um Amor, Um Verão e o Milagre da Vida”, Isa Colli expõe, de forma poética, a longa e desconhecida fronteira que separa as pessoas da morte. Sua surpreendente experiência com um câncer é revelada logo nas primeiras páginas. Colli, acima de tudo, mostra a força e a superação baseada em uma fé consolidada, que a fez vencer um vilão que, às vezes se apresenta de forma invisível.

23 de jan. de 2011

Jessye Norman – uma exímia força interpretativa e um timbre inconfundível

Com certeza, uma das melhores interpretações – e por que não dizer, a melhor interpretação - da peça “Erkönig”, do compositor romântico vienense Franz Schubert, é da soprano estadunidense Jessye Norman, conhecida por seu estilo intelectual e suas qualidades emocionais expressivas.

Segundo o texto do alemão Johann Wolgang von Goethe, um menino doente, um pai desesperado, um cavalo veloz e um temível rei dos elfos são as personagens relatadas no poema “Der Erlkönig”, musicado por Schubert, em 1815, para voz e piano. Originalmente, foi composto como parte da balada operística de 1782, titulada "Die Fischerin". Alguns pianistas, maestros e cantores líricos consideram “Erlkönig” difícil de ser cantada, devido à habilidade e interpretação vocal requerida do cantor, assim como a sua dificuldade de acompanhamento. Esta barreira, entretanto, foi vencida por Jessye Norman, dona de um poder vocal impressionante, além de sua interpretação impecável.

Nascida na Geórgia (EUA), Norman foi ganhadora quatro vezes do Grammy – uma espécie de Oscar do universo musical - e é uma das mais admiradas cantoras líricas contemporâneas. Segundo matéria publicada, em 16 de outubro de 2010, no Jornal Estadão, a soprano realizou, no início da década de 1970, inúmeras interpretações das obras de Mozart, Verdi e Wagner, o que a fizeram internacionalmente famosa. Já nos anos 80, Norman optou por peças barrocas e contemporâneas, com paradas em obras românticas. Nos concertos, no entanto, os únicos compositores constantes eram Wagner e Strauss. Alguns musicólogos acreditam que, por interpretar todas essas obras de diferentes períodos da música, Norman adquiriu a facilidade de transitar por todos os registros. Dos graves aos mais agudos.

Sem sombra de dúvidas, Jessye Norman merece os aplausos. Outra obra que revela todo o potencial da estadunidense é “Dove Sono”, da ópera As Bodas de Fígaro, do compositor austríaco Wolgang Amadeus Mozart. Sua interpretação dramática a coloca entre as melhores cantoras líricas e mais bem pagas. Em matéria postada no Portal Luis Nassif, Oscar Peixoto afirma que, Jessye possui uma das vozes mais marcantes de nossa época. É um soprano de personalidade exuberante, de enorme força interpretativa, voz poderosa e timbre inconfundível.
Wellerson Cassimiro

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13 de jan. de 2011

Um piano como testemunha

Os carrascos da educação musical. As totalitárias semelhanças entre Leopold Mozart e Peter Helfgott.

Novamente, coloco a disposição as minhas análises referentes às tristes semelhanças entre Leopold Mozart, pai de Wolgang Amadeus Mozart, e Peter Helfgott, pai do pequeno David Helfgott. Separados por quase 165 anos, Leopold e Peter não se diferenciavam em nada, quando a educação musical de seus filhos estava em jogo.

Os virtuoses da música

Nascido em Melbourne, na Austrália, em 19 de Maio de 1947, David Helfgott era capaz de reproduzir ao piano as peças mais complexas que, rapidamente memorizava, após ouví-las em um cansado toca-discos. Ao participar de um concurso de música, teve a destreza de interpretar obras de Chopin com o piano em movimento, ocasionado pelo peso de suas mãos e a falta de travas nos pés do instrumento. David iniciou seus estudos de música com seu pai, Peter Helfgott, homem rígido e abusivo. Peter foi um homem frustrado, pois quando criança adquirira um violino através de muito suor que, posteriormente, veio a se quebrar. Para agravar a situação, seu pai negara o seu acesso aos estudos musicais. Desse modo, Peter Helfgott transportou para o seu filho, David, o seu sonho de ser um músico de exímio talento. Ele inscrevia David em vários festivais e concursos em busca de troféus e, consequentemente, receber a fama. O patriarca da família Helfgott não admitia falhas. Se errasse qualquer nota ou compasso, David era severamente punido.

Entretanto, a História nos revela fatos semelhantes, ainda no século XVIII, de uma criança-prodígio, nascida em Salzburgo, em 27 de janeiro de 1756, com um pai opressor, sedento por fama e glória. Essa criança, Wolgang Amadeus Mozart cresceu sem o afeto do pai: Leopold Mozart. Considerando inúmeros aspectos, acredito que Amadeus nunca teve a atenção de um pai. Mas, sim a dedicação de um professor.

Em seu livro “Mozart - O Grande Mago” (vol.1), o escritor francês Christian Jacq revela o lado autoritário de Leopold Mozart que, submetia Wolgang às longas jornadas de estudos ao piano. As tradicionais brincadeiras de criança foram suprimidas. Ao jovem operístico, era permitido somente breves – por não dizer curtas - distrações, para não comprometer as novas composições (p.89). Wolgang, por vezes, queixava-se do pai que, não o concedia momentos de descanso (p.155). Afirmo sem sombras de dúvidas que, em busca de glória, Leopold enfrentava cansativas viagens entre as cidades européias para exibir seu filho como, um mico adestrado. Seu sonho era ver Wolgang indicado a um cargo fixo de músico, na corte de Viena. Contudo, agradar aos vienenses não era uma tarefa tão fácil. Culturalmente, os moradores de Viena eram extremamente rigorosos quanto aos seus músicos, obras e estilos. Como resultado, ao final do ano de 1766, Wolgang, com apenas 10 anos de idade, se viu sobrecarregado de trabalho. Para o frustar ainda mais, o príncipe-arcebispo de Salzburgo, Colloredo, que nunca dispensou sua simpatia ao jovem, colocava constante em “xeque” os seus reais talentos.

Uma testemunha

Assim, me atrevo a dizer que, Leopold Mozart e Peter Helfgott eram quase irmãos. Gêmeos. Eles impunham sobre seus filhos obras complexas de estilo virtuosísticos que necessitariam de mais tempo de estudo e experiência musical. A diversão, por direito de qualquer criança e adolescente, não fazia parte de suas vidas. Para Leopold e Peter a opressão era o melhor método de ensino musical e educação secular. Buscaram a fama e a glória usando seus filhos como vitrines ambulantes. Em toda essa lastimável história de repressão, somente os seus pianofortes presenciaram os sonhos e os desejos frustrados de Wolgang e David. A dor e a alegria de serem crianças-prodígios. Wellerson Cassimiro

10 de jan. de 2011

3 de jan. de 2011

Maria Callas vira tema de filme

Notas de Abertura

Destaque no cenário lírico pela exímia interpretação de Norma, ópera do italiano Vincenzo Bellini, e considerada a maior celebridade operística do século XX, Maria Callas vai se tornar alvo de um longa-metragem. A produção é de responsabilidade da atriz norte-americana Eva Mendes, 36 anos, que em entrevista à revista alemã Brigitte, publicada no domingo (02), disse estar obsessiva pela cantora de óperas. Sobretudo com o romance entre ela e Aristóteles Onassis. “Essa relação entre paixão e poder me fascinou", afirmou Mendes. A atriz já tem os direitos para produzir o filme e, o roteiro já está pronto. Segundo Eva, só falta procurar um diretor para rodar a trajetória de Callas (1923-1977).

Ato I - Abrindo as cortinas

Maria Callas nasceu em Nova Iorque, em 02 de dezembro 1923, e começou a despontar no universo erudito como cantora lírica em 1948, com uma interpretação surpreendente para a protagonista da ópera Norma, de Vincenzo Bellini. Entretanto, sua carreira só alcançou o merecido sucesso no ano seguinte, quando alternou, na mesma semana, récitas de “I Puritani”, também de Bellini, e “Die Walküre”, de Wagner; deixando a crítica e o público perplexos.

Para o organista barroco e historiador de óperas, formado pelo Conservatório Haydée França Americano, Carlos Alexandre Aquino, 33, a cantora Maria Callas foi a personificação da arte dramática. “Ela trouxe para a ópera todo o drama que viveu em sua vida pessoal. Cada gesto, olhar, respiração e cada nota que emitia era um desabafo para o público que a assistia e a admirava”, revela. Segundo a imprensa da época, a vida de Callas renderia enredo de ópera tão trágico quanto o das encenadas pela soprano. O organista barroco afirma, ainda, que a cantora já nasceu com um talento especial para a ópera, com seus conflitos e dramas pelos quais passou. “Por isso, ela soube tão bem compreender as personagens que interpretou, vivendo-as intensamente”, acrescenta ele.

Ato II – Ascensão

A partir da década de 1950, ela começou a apresentar-se regularmente nas mais importantes casas de espetáculos dedicadas à ópera, como Metropolitan, La Scala e Convent Garden. Foram os anos dourados de Maria Callas. Seu renome como cantora internacional como, também sua fama de tigresa, ascenderam rapidamente. Foi neste mesmo período que recebeu a fama de ser temperamental pelo seu perfeccionismo. Callas era detalhista às características mais sútis das personagens que interpretava. Para Carlos Alexandre Aquino, a mais marcante das personagens de Callas, nos palcos e, a que fez história, foi Norma. Embora, segundo ele, Tosca, de Puccini, tenha sido muito elogiada e ainda uma das maiores vividas até hoje.

Ato III – A Queda

Quanto ao trágico fim de sua carreira, o organista revela que, de certo modo o relacionamento de Maria Callas com Onassis levou aos poucos ao fim da carreira da artista. “Ela amava o armador grego de forma tão intensa quanto sua arte, e isso a levou a um desequilíbrio emocional tal, que a fazia até mesmo cancelar récitas, quase que em últimas horas”, conta. Segundo ele, o fim da carreira de Maria Callas foi muito da consequência do seu lado emocional abalado e perda da voz de outrora e do conflito de Maria, a mulher e Callas, a artista. “Certa vez, como relatou Ariana Stanssinopoulos Huffington, em seu livro Callas, a Mulher Por Trás Do Mito, a diva grega teria dito: 'eu gostaria de ser Maria, mas La Callas exige que me comporte com sua dignidade, eu gostaria de pensar que as duas na verdade são uma só, porque uma vez Callas também foi Maria, e sempre me coloquei inteira em minha música'. Chegou em um ponto, que Callas sufocou Maria, essa que queria ser amada, amar, construir uma família”, explica Aquino. Desse modo, Callas vivenciou conflitos estabelecidos dentro de si.

Fechando as cortinas

Apesar das adversidades, em 1974, depois de um tempo afastada dos palcos e holofotes, Callas retornou ao mundo operístico para realizar uma série de concertos ao lado do tenor Giuseppe di Stefano. Contudo, os concertos foram massacrados pela crítica especializada, pois segundo alguns, a voz de Maria Callas já não era a mesma. O que mantinha o público firme nas apresentações era o amor. A crítica afirmava que sua atuação foi prejudicada, pois uma vez que tinha que fazer muito mais esforço para manter a afinação, a interpretação ficou débil. O organista Carlos Alexandre ratifica que o desequilíbrio emocional contriubuiu para o apagar das luzes e o fechar das cortinas para Callas. “Isso ficou bem nítido em suas últimas apresentações, como o concerto com o tenor italiano Giuseppe di Stefano, realizado no Japão, naquele ano”, encerra. Wellerson Cassimiro