24 de nov. de 2011

De Mendelssohn a Wagner

Os sinos anunciam mais um enlace matrimonial. É uma noite de gala. A igreja está ornamentada com flores e tapetes vermelho. Os convidados, aos poucos, começam a chegar. E, o repertório favorito de nove a cada dez noivas, a Marcha Nupcial, não pode faltar na cerimônia de casamento. Entretanto, duas populares marchas marcam este momento solene.


A primeira marcha conhecida é a Suíte da obra “Sonho de uma Noite de Verão”, do pianista alemão Felix Mendelssohn. Para escrever toda a obra, o fértil compositor do início do período romântico buscou inspiração em uma peça teatral escrita pelo dramaturgo e poeta inglês William Shakespeare, a qual leva o mesmo nome. Mendelssohn compôs a tradicional Marcha Nupcial, que faz parte da música incidental (Op. 61), em 1842. Entretanto, a primeira execução integral da obra só aconteceu um ano depois, na cidade alemã de Potsdam. Já a sua execução em um concerto, somente ocorreu no dia 27 de maio de 1844, na cidade de Londres, sob a regência do próprio Mendelssohn, conhecido por ser um compositor eclético, embora de linguagem muito pessoal. A peça musical “Sonho de uma Noite de Verão” é composta pela Abertura (Op. 21), Música de Cena (Op. 61), Scherzo, Intermezzo, Noturno, Marcha Nupcial e a Dança dos Palhaços.


Já a segunda Marcha, popularmente executada nas bodas, é a melodia do Coro Nupcial, que faz parte do ato III, da ópera Lohengrin, do compositor e maestro Wilhelm Richard Wagner. Lohengrin é uma ópera romântica, escrita em três atos, que teve sua estreia em Weimar, na Alemanha, em 28 de agosto de 1850, sob direção do pianista virtuose e Pop-Star da música erudita, Franz Liszt. E, confirmando o início da tradição wagneriana iniciada na ópera “Der fliegende Holländer” (O Holandês Voador – 1843), Lohengrin faz uso constante do leitmotiv, uma técnica de composição que constitui-se em um tema associado a uma personagem, e que aparece no decorrer de todo o drama operístico.

O mais curioso é que nos casamentos atuais, esta marcha é executada no início da cerimônia, durante a entrada da noiva. Na ópera de Wagner, no entanto, a mesma melodia é executada depois do casamento de Lohengrin e Elsa. Intelectual, ativista político e um dos mais fortes representantes do neo-romantismo musical alemão, Richard Wagner ficou consagrado como um dos maiores operísticos. E, desde meados do século XIX, tanto a Marcha de Mendelssohn quanto a de Wagner eternizam a entrada das noivas nas igrejas, caíram no gosto popular atravessando gerações e como músicas patrióticas, consagraram-se como hinos percorrendo continentes. Wellerson Cassimiro.

Rua Barão de São João Nepomuceno - Juiz de Fora

20 de nov. de 2011

Presos às correntes sociais

Segundo a Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, comemora-se hoje, no Brasil, o dia Nacional da Consciência Negra, a qual determinou que o dia 20 de novembro seria dedicado à uma real reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. Entretanto, esta reflexão não tem sido uma realidade. O que se percebe é que a população negra ainda está acorrentada. Não presa pelas grossas correntes das senzalas e dos troncos. Contudo, presa às correntes sociais dos pensamentos limitados da atual sociedade alienada, sustentada pelas futlidades do entretenimento vazio e pela ideologia do espetáculo. Não vejo consciência alguma. Nem negra, nem branca e nem amarela. Se é que a consciência tem cor.

Acredita-se que a Memória é um dos bens mais preciosos do ser humano. Na Idade Média, por exemplo, alguns autores colocaram a Memória como uma das “funções da alma”. Santo Agostinho (354-430), por sua vez, fundador da “Memória Medieval”, relatou que a memória “vive em um palácio”, e é como o ventre da alma, espécie de luz dos espaços temporais (COSTA, 2007). Já que este “dom da alma” não é uma dádiva de algumas pessoas, vou resgatar o passado brasileiro que muitos tentam esconder. O que as pessoas esquecem é que os alicerces deste Brasil varonil foram fundidos sobre o sangue de negros e, índios, muitos deles torturados e mortos. As casas dos nobres portugueses, fazendas e, até igrejas, só foram erguidos graças ao suor dos negros. Sem falar, é claro, da economia brasileira sustentada pelas mãos dos escravos, baseada na cana-de-açucar e na cafeicultura.

No entanto, os negros vivem como exilados sociais e sem o devido valor. Disseram-me, uma vez, que os negros carregam a imagem padrão de criminosos, rótulo este imposto por alguns aristocratas tupininiquins pós-modernos. Agora, me responda: o que é uma imagem padrão de criminoso? Creio haver uma distorção deste conceito. Então, ser negro é um crime? Mas, os pais que estrupam suas filhas, não são criminosos? Políticos que, explicitamente, desviam verbas da Saúde e da Educação e roubam dos bolsos de milhares de trabalhadores, também não são criminosos? E, os jovens que dirigem embreagados fazendo suas vítimas no trânsito, não são criminosos? A data, 20 de novembro, foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695, líder do quilombo dos Palmares e um respeitado heroi do movimento de resistência.
Wellerson Cassimiro

10 de nov. de 2011

1º Concurso de Piano e Música de Câmara Eduardo Tagliatti

Acontece neste próximo final de semana (11, 12 e 13), às 20h, o 1º Concurso de Piano e Música de Câmara Eduardo Tagliatti, no teatro da Sociedade Filarmônica de Juiz de Fora. O concurso contará com a presença de candidatos musicistas vindos de todo o país e, inclusive, do exterior. Além de divulgar e perpetuar o legado do pianista e compositor juiz-forano Eduardo Tagliatti, falecido em 2010, o evento idealizado pela pianista mineira, Daniele Espíndola, pretende despertar no público e participantes o interesse pela música dos séculos XX e XXI. O teatro da Sociedade Filarmônica está localizado na Rua Oscar Vidal, 134, no centro da cidade (http://www.concursoeduardotagliatti.com).

James McGranahan: um retorno à hinódia tradicional

Conhecido por sua voz de tenor e incentivado a seguir carreira no universo operístico, James McGranahan foi um exímio músico, cantor solista, regente e compositor. Nascido a 04 de julho de 1840, Pennsylvania, Estados Unidos, foi na composição de hinos, entretanto, que McGranahan teve um maior reconhecimento e sucesso. James foi integrante do movimento dos “Hinos Evangélicos”. E, seu trabalho musical fomentou uma reação de resgate da hinódia tradicional das igrejas.

A melodia “Far, Far Away”, associada ao poema “Quem Irá?”, revela um clássico hino missionário, que chegou ao Brasil através do hinário “Salmos e Hinos”, usado pela primeira vez em 17 de novembro de 1861, e organizado pelo casal Robert Reid Kalley e Sarah Poulton Kalley, fundadores da Igreja Evangélica Fluminense. A música de “Far, Far Away” mescla, constantemente, ritmos diferentes, porém, mantendo o mesmo andamento. Isto faz com que o canto congregacional se torne um pouco complexo, merecendo uma devida atenção pelo coro. Não obstante, a melodia de “None but Christ” (Salvação em Cristo) apresenta uma estrutura melódica mais simples, se comparada ao hino “Far, Far Away”. No entanto, mantém a principal característica de McGranahan que é a evangelização através da música.
Wellerson Cassimiro

7 de nov. de 2011

Juiz de Fora - Região Central


Avenida Getúlio Vargas esquina com Rua Espírito Santo. Centro.

4 de nov. de 2011

Um Réquiem em novembro

Segundo o calendário da Igreja Católica Romana, o último dia 02, celebrou-se a vida eterna das pessoas que já faleceram, um hábito que teve origem ainda no século 1º, quando os cristãos rezavam pelos falecidos. As pessoas costumavam visitar os túmulos dos mártires para rezar pelos que morreram sem martírio. Já no século IV encontramos os primeiros registros da “Memória dos Mortos” na celebração da missa. Entretanto, somente a partir do século XI, que o Papa Silvestre II (1009) incluiu oficialmente no calendário eclesiástico que a comunidade dedicasse um dia por ano aos mortos. O dia dos mortos é comemorado no dia 02 de novembro, devido ao dia 1º deste mês, no qual é celebrado a festa de "Todos os Santos". Igualmente, o universo musical erudito, em especial, na liturgia cristã, os mortos também são lembrados através de um gênero musical.

Dai-lhes o repouso eterno

Derivado da expressão em latim “requiem aeternam dona eis”, que significa "dai-lhes o repouso eterno", o Réquiem é uma missa solene cantada composta, exclusivamente, para um funeral. Era realizado na igreja após a chegada da procissão que trazia o corpo de casa do falecido, em meio aos cânticos de Salmos. O primeiro registro de um réquiem data do final do século XV, por volta de 1470, escrito por Johannes Ockeghem. Nascido na Bélgica, Ockeghem foi cantor e compositor ao serviço da corte francesa durante toda sua vida.

Um réquiem é estruturado em movimentos específicos, os quais são até mesmo desmembrados e interpretados, atualmente, de forma isolada. Entre estas partes encontram-se o Introitus formado pelo Réquiem e o Kyrie; Dies Irae, o Sanctus, o Benedictus, o Agnus Dei e o Recordare. Contudo, inserido somente a partir do século XIV, o movimento Dies Irae, que significa o Dia da Ira, merece uma devida atenção. Alguns compositores expressam toda a dramaticidade da obra neste movimento, utilizando a música e o texto de forma ímpar para comover as pessoas. Se compararmos aos movimentos de uma sinfonia, poderíamos dizer que o Dies Irae seria justamente o quarto movimento, por concentrar toda a evocação musical da peça.

Mais foi no Classicismo e, posteriormente, no Romantismo que este gênero musical ganhou forças. Os réquiens mais famosos foram compostos pelo austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (K.626); o alemão Johannes Brahms; o compositor do romantismo francês, Louis Hector Berlioz; e o compositor de óperas do período romântico italiano, Giuseppe Fortunino Francesco Verdi.

Estruturado em sete grandes partes, “Um Requiem Alemão” ,de Brahms, foi composto entre os anos de 1865 e 1868. Nacionalista fervoroso, Brahms foi um evangélico da Igreja Luterana, o qual exprimiu em sua obra toda a seriedade e firmeza da sua crença. Já o exaustivamente interpretado Réquiem K.626, de Mozart, atravessa gerações sustentado sobre a sombra de um mistério, que já foi revelado. A encomenda desta obra foi feita pelo músico amador, o Conde Franz von Walsegg, que alterava as composições de consagrados músicos e afirmava que as peças eram de sua autoria, executando-as em seu castelo, em concertos privados.

Um réquiem brasileiro

Entretanto, outras missas fúnebres merecem destaque, como o réquiem de Johann Adolph Hasse, que foi um compositor do período barroco; e a obra “Ofício dos Defuntos de 1816” (Officium 1816) do padre José Mauricio Nunes Garcia, compositor brasileiro de música sacra que viveu a transição entre o Brasil Colônia e o Brasil Império. No entanto, conhecido por sua exímia interpretação do Réquiem de Mozart, Nunes Garcia deu um outro formato à sua peça, a qual apresenta características que as demais obras deste estilo não possuem. O “Ofício 1816” tem uma estrutura melódica mais leve se comparado aos réquiens dos compositores europeus, em especial, as composições alemãs, conhecidas por sua densidade. O padre Mauricio Nunes Garcia é conhecido por sua exímia interpretação do Réquiem de Mozart.

Na verdade, a música erudita brasileira não viveu todos os períodos da música bem marcados, como vivenciou as composições musicais do velho continente. Mesmo que aparentassem estruturas europeias, as músicas brasileiras, por volta de 1800, já recebiam as influências da cultura índigena e africana. O que se percebe em algumas obras sacras do Brasil Colonial são elementos do barroco, do classicismo e até do romantismo em uma mesma peça, o que deu às nossas músicas uma característa singular. Wellerson Cassimiro