Por Wellerson Cassimiro
Caminhamos a passos largos para uma sociedade cada vez mais teatral e valores éticos banalizados. As redes sociais, epidemias nos países ocidentais, fomentam a autoespetacularização e os holofotes de um narcisismo, que cada um carrega consigo. Com o advento da internet e o seu elevado número de acessos surgiram tecnologias que há dez anos eram algo tão abstrato. Entretanto, a mesma mão que balança o berço e faz ninar uma criança é autora de tapas e severas correções.
A internet acelerou o fenômeno alertado pelo sociólogo Zygmunt Bauman. Viemos em uma sociedade extremamente líquida e sem formato estático. Ética e valores morais mudam rapidamente e se confundem. A garota do vestido curto que assistia às aulas em uma faculdade, hoje exibe seu corpo em revistas, coroada como celebridade pela mídia e, em especial, pelo Jornalismo que, infelizmente, se entregou aos prazeres profanos do sensacionalismo fútil e niilista: resultado da pós-modernidade, o auge da indústria do espetáculo. Uma triste realidade para desepero e frustação daqueles que defenderam, com sangue, as suas máquinas de escrever diante da ditadura e seus monstros censores. O Jornalismo, que insisto em escrever com letra maiúscula, uniu-se com os chamados reality shows, que ao contrário do que pensam, só alienam ainda mais nossa sociedade.
Acredito que devido a instabilidade social faz com que os reality shows se propaguem pois, as pessoas querem ser vistas. A velha tática de amarrar uma melância no pescoço já não curte efeito algum. Para aparecer é preciso, literalmente, tirar a roupa diante das câmeras de televisão. Recentemente, li em um artigo que, uma jovem norte-americana instalou diversas câmeras de tevê dentro de sua casa e os internautas podem acompanhar sua rotina. Ela abriu mão de sua privacidade para aparecer na mídia.
Estamos diante das perdas de valores e autoespetacularização que, obviamente, em geram audiências. Ser visto é o lema da atualidade. Afinal, já diz a máxima que “quem não é visto, não é lembrado”, correto? Contudo, até que ponto ser visto é um benefício para o indivíduo? O que se observar é uma escravidão digital que surgiu com as redes sociais e toda essa convergência de mídias. O indivíduo cria blog, facebook, orkut, twitter, posta videos no Youtube e fotos no fotolog. Ele necessita ser visto. Desse modo, a sociedade fica refém do meio virtual, que veloz não oferece meios para uma reflexão de seus atos.
O que me preocupa é que o tradicional e, talvez, conservador Jornalismo se envereda por tais caminhos. Não levanto a bandeira de um retorno às redações cheias, com os barulhos das Olivettis. Todavia, precisamos definir melhor os limites da líquidez dos reality shows e as fronteiras jornalísticas.
O abstrato de Bauman mexeu com o eixo da terra e hoje o que se vê é um Jornalismo de entreterimento. Os jornalistas, no passado, somente informavam os fatos. Atualmente, alguns, dramatizam as informações. Bancadas de telejoranis transformaram em estúdios de novelas ou palco de um luxuoso teatro. Posso estar sendo radical demais diante do novo cenário digital e especulativo da fama. No entanto, ao encerrar um telejoranl podemos dizer a célebre frase protagonista da cerimônia hollywoodiana: “ e o prêmio de melhor ator-jornalista vai para...”
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