Notas de Abertura
Destaque no cenário lírico pela exímia interpretação de Norma, ópera do italiano Vincenzo Bellini, e considerada a maior celebridade operística do século XX, Maria Callas vai se tornar alvo de um longa-metragem. A produção é de responsabilidade da atriz norte-americana Eva Mendes, 36 anos, que em entrevista à revista alemã Brigitte, publicada no domingo (02), disse estar obsessiva pela cantora de óperas. Sobretudo com o romance entre ela e Aristóteles Onassis. “Essa relação entre paixão e poder me fascinou", afirmou Mendes. A atriz já tem os direitos para produzir o filme e, o roteiro já está pronto. Segundo Eva, só falta procurar um diretor para rodar a trajetória de Callas (1923-1977).
Ato I - Abrindo as cortinas
Maria Callas nasceu em Nova Iorque, em 02 de dezembro 1923, e começou a despontar no universo erudito como cantora lírica em 1948, com uma interpretação surpreendente para a protagonista da ópera Norma, de Vincenzo Bellini. Entretanto, sua carreira só alcançou o merecido sucesso no ano seguinte, quando alternou, na mesma semana, récitas de “I Puritani”, também de Bellini, e “Die Walküre”, de Wagner; deixando a crítica e o público perplexos.
Para o organista barroco e historiador de óperas, formado pelo Conservatório Haydée França Americano, Carlos Alexandre Aquino, 33, a cantora Maria Callas foi a personificação da arte dramática. “Ela trouxe para a ópera todo o drama que viveu em sua vida pessoal. Cada gesto, olhar, respiração e cada nota que emitia era um desabafo para o público que a assistia e a admirava”, revela. Segundo a imprensa da época, a vida de Callas renderia enredo de ópera tão trágico quanto o das encenadas pela soprano. O organista barroco afirma, ainda, que a cantora já nasceu com um talento especial para a ópera, com seus conflitos e dramas pelos quais passou. “Por isso, ela soube tão bem compreender as personagens que interpretou, vivendo-as intensamente”, acrescenta ele.
Ato II – Ascensão
A partir da década de 1950, ela começou a apresentar-se regularmente nas mais importantes casas de espetáculos dedicadas à ópera, como Metropolitan, La Scala e Convent Garden. Foram os anos dourados de Maria Callas. Seu renome como cantora internacional como, também sua fama de tigresa, ascenderam rapidamente. Foi neste mesmo período que recebeu a fama de ser temperamental pelo seu perfeccionismo. Callas era detalhista às características mais sútis das personagens que interpretava. Para Carlos Alexandre Aquino, a mais marcante das personagens de Callas, nos palcos e, a que fez história, foi Norma. Embora, segundo ele, Tosca, de Puccini, tenha sido muito elogiada e ainda uma das maiores vividas até hoje.
Ato III – A Queda
Quanto ao trágico fim de sua carreira, o organista revela que, de certo modo o relacionamento de Maria Callas com Onassis levou aos poucos ao fim da carreira da artista. “Ela amava o armador grego de forma tão intensa quanto sua arte, e isso a levou a um desequilíbrio emocional tal, que a fazia até mesmo cancelar récitas, quase que em últimas horas”, conta. Segundo ele, o fim da carreira de Maria Callas foi muito da consequência do seu lado emocional abalado e perda da voz de outrora e do conflito de Maria, a mulher e Callas, a artista. “Certa vez, como relatou Ariana Stanssinopoulos Huffington, em seu livro Callas, a Mulher Por Trás Do Mito, a diva grega teria dito: 'eu gostaria de ser Maria, mas La Callas exige que me comporte com sua dignidade, eu gostaria de pensar que as duas na verdade são uma só, porque uma vez Callas também foi Maria, e sempre me coloquei inteira em minha música'. Chegou em um ponto, que Callas sufocou Maria, essa que queria ser amada, amar, construir uma família”, explica Aquino. Desse modo, Callas vivenciou conflitos estabelecidos dentro de si.
Fechando as cortinas
Apesar das adversidades, em 1974, depois de um tempo afastada dos palcos e holofotes, Callas retornou ao mundo operístico para realizar uma série de concertos ao lado do tenor Giuseppe di Stefano. Contudo, os concertos foram massacrados pela crítica especializada, pois segundo alguns, a voz de Maria Callas já não era a mesma. O que mantinha o público firme nas apresentações era o amor. A crítica afirmava que sua atuação foi prejudicada, pois uma vez que tinha que fazer muito mais esforço para manter a afinação, a interpretação ficou débil. O organista Carlos Alexandre ratifica que o desequilíbrio emocional contriubuiu para o apagar das luzes e o fechar das cortinas para Callas. “Isso ficou bem nítido em suas últimas apresentações, como o concerto com o tenor italiano Giuseppe di Stefano, realizado no Japão, naquele ano”, encerra. Wellerson Cassimiro
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