27 de nov. de 2010

LIXO PARA ALGUNS. ESPERANÇA PARA OUTROS

Os papéis que são descartados se transformam em alimento nas mãos dos catadores de materiais recicláveis

Um carrinho de latão, revelando algumas ferrugens e sobrecarregado de papelão, atravessa uma das avenidas mais movimentadas de Juiz de Fora. À frente desse carrinho, puxando-o, tem uma jovem senhora. Um cachorro preso a uma corrente a segue. Alguns automóveis param. Outros desviam. Próximo à calçada, ela encosta o seu veículo e começa a descarregar todo aquele papelão. É mais um dia de trabalho de Vilma de Lima Constant, de 48 anos, que tem na coleta de materiais recicláveis a esperança para uma vida melhor.

Os desafios

Vilma é catadora de papel há 20 anos e nunca teve a carteira de trabalho assinada. Aliás, ela nunca esse documento. Segundo ela, toda a sua renda vem dos materiais que recolhe pelas vias centrais da cidade. “Poucas vezes, trabalhei fazendo faxina. Ganho todo o meu dinheiro catando os papéis”. A catadora revela que um dos maiores desafios da sua profissão é recolher materiais o suficiente para um bom retorno finaceiro pois, recentemente, “o quilo do papel caiu de preço”. O pouco dinheiro que resulta da venda dos papéis “mal dá para a alimentação. Segundo um dos proprietários do posto de pesagem de materiais reaproveitáveis, Joaquim Faustino de Oliveira, o quilo de alumínio é comprado a R$ 3 e o de cobre, a R$ 6. Enquanto que o quilo do papel e do plástico vale R$ 0,08. Todavia, Vilma não desanima. “Dependendo do dia, até dá para tirar uns R$ 15”, revela.

Outro desafio que a catadora precisa enfrentar é o fantasma do preconceito. Ela afirma que sempre recebe olhares de discriminação por parte de algumas pessoas. “Parece que sou vista como um ladrão que tenta roubar as lojas. Já estou acostumada com isso. Deixo pra lá e continuo catando os meus papéis”, desabafa.
Contudo, nem só de lamentos Vilma é cercada. Sua maior conquista foi conhecer o seu atual marido, José Carvalho Pinto, 55, que também vive da coleta de materiais recicláveis. Cenário oposto ao da catadora, José Carvalho já teve uma carteira de trabalho assinada. Durante 11 anos, atuou no campo da construção cívil como pedreiro. “Mesmo quando trabalhava como pedreiro, minha renda não era das melhores”, revela.

Um sopro de esperança

Apesar das dificuldades que enfrenta, como sua residência em um pequeno barracão de madeira, Vilma não reclama da vida. Ela trabalha todos os dias, ao lado do marido, com a espernça de um dia comprar a sua casa própria. “Devagarinho a gente vai caminhando. É só trabalhar”, encerra.
Wellerson Cassimiro

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