13 de jan. de 2011

Um piano como testemunha

Os carrascos da educação musical. As totalitárias semelhanças entre Leopold Mozart e Peter Helfgott.

Novamente, coloco a disposição as minhas análises referentes às tristes semelhanças entre Leopold Mozart, pai de Wolgang Amadeus Mozart, e Peter Helfgott, pai do pequeno David Helfgott. Separados por quase 165 anos, Leopold e Peter não se diferenciavam em nada, quando a educação musical de seus filhos estava em jogo.

Os virtuoses da música

Nascido em Melbourne, na Austrália, em 19 de Maio de 1947, David Helfgott era capaz de reproduzir ao piano as peças mais complexas que, rapidamente memorizava, após ouví-las em um cansado toca-discos. Ao participar de um concurso de música, teve a destreza de interpretar obras de Chopin com o piano em movimento, ocasionado pelo peso de suas mãos e a falta de travas nos pés do instrumento. David iniciou seus estudos de música com seu pai, Peter Helfgott, homem rígido e abusivo. Peter foi um homem frustrado, pois quando criança adquirira um violino através de muito suor que, posteriormente, veio a se quebrar. Para agravar a situação, seu pai negara o seu acesso aos estudos musicais. Desse modo, Peter Helfgott transportou para o seu filho, David, o seu sonho de ser um músico de exímio talento. Ele inscrevia David em vários festivais e concursos em busca de troféus e, consequentemente, receber a fama. O patriarca da família Helfgott não admitia falhas. Se errasse qualquer nota ou compasso, David era severamente punido.

Entretanto, a História nos revela fatos semelhantes, ainda no século XVIII, de uma criança-prodígio, nascida em Salzburgo, em 27 de janeiro de 1756, com um pai opressor, sedento por fama e glória. Essa criança, Wolgang Amadeus Mozart cresceu sem o afeto do pai: Leopold Mozart. Considerando inúmeros aspectos, acredito que Amadeus nunca teve a atenção de um pai. Mas, sim a dedicação de um professor.

Em seu livro “Mozart - O Grande Mago” (vol.1), o escritor francês Christian Jacq revela o lado autoritário de Leopold Mozart que, submetia Wolgang às longas jornadas de estudos ao piano. As tradicionais brincadeiras de criança foram suprimidas. Ao jovem operístico, era permitido somente breves – por não dizer curtas - distrações, para não comprometer as novas composições (p.89). Wolgang, por vezes, queixava-se do pai que, não o concedia momentos de descanso (p.155). Afirmo sem sombras de dúvidas que, em busca de glória, Leopold enfrentava cansativas viagens entre as cidades européias para exibir seu filho como, um mico adestrado. Seu sonho era ver Wolgang indicado a um cargo fixo de músico, na corte de Viena. Contudo, agradar aos vienenses não era uma tarefa tão fácil. Culturalmente, os moradores de Viena eram extremamente rigorosos quanto aos seus músicos, obras e estilos. Como resultado, ao final do ano de 1766, Wolgang, com apenas 10 anos de idade, se viu sobrecarregado de trabalho. Para o frustar ainda mais, o príncipe-arcebispo de Salzburgo, Colloredo, que nunca dispensou sua simpatia ao jovem, colocava constante em “xeque” os seus reais talentos.

Uma testemunha

Assim, me atrevo a dizer que, Leopold Mozart e Peter Helfgott eram quase irmãos. Gêmeos. Eles impunham sobre seus filhos obras complexas de estilo virtuosísticos que necessitariam de mais tempo de estudo e experiência musical. A diversão, por direito de qualquer criança e adolescente, não fazia parte de suas vidas. Para Leopold e Peter a opressão era o melhor método de ensino musical e educação secular. Buscaram a fama e a glória usando seus filhos como vitrines ambulantes. Em toda essa lastimável história de repressão, somente os seus pianofortes presenciaram os sonhos e os desejos frustrados de Wolgang e David. A dor e a alegria de serem crianças-prodígios. Wellerson Cassimiro

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