4 de nov. de 2011

Um Réquiem em novembro

Segundo o calendário da Igreja Católica Romana, o último dia 02, celebrou-se a vida eterna das pessoas que já faleceram, um hábito que teve origem ainda no século 1º, quando os cristãos rezavam pelos falecidos. As pessoas costumavam visitar os túmulos dos mártires para rezar pelos que morreram sem martírio. Já no século IV encontramos os primeiros registros da “Memória dos Mortos” na celebração da missa. Entretanto, somente a partir do século XI, que o Papa Silvestre II (1009) incluiu oficialmente no calendário eclesiástico que a comunidade dedicasse um dia por ano aos mortos. O dia dos mortos é comemorado no dia 02 de novembro, devido ao dia 1º deste mês, no qual é celebrado a festa de "Todos os Santos". Igualmente, o universo musical erudito, em especial, na liturgia cristã, os mortos também são lembrados através de um gênero musical.

Dai-lhes o repouso eterno

Derivado da expressão em latim “requiem aeternam dona eis”, que significa "dai-lhes o repouso eterno", o Réquiem é uma missa solene cantada composta, exclusivamente, para um funeral. Era realizado na igreja após a chegada da procissão que trazia o corpo de casa do falecido, em meio aos cânticos de Salmos. O primeiro registro de um réquiem data do final do século XV, por volta de 1470, escrito por Johannes Ockeghem. Nascido na Bélgica, Ockeghem foi cantor e compositor ao serviço da corte francesa durante toda sua vida.

Um réquiem é estruturado em movimentos específicos, os quais são até mesmo desmembrados e interpretados, atualmente, de forma isolada. Entre estas partes encontram-se o Introitus formado pelo Réquiem e o Kyrie; Dies Irae, o Sanctus, o Benedictus, o Agnus Dei e o Recordare. Contudo, inserido somente a partir do século XIV, o movimento Dies Irae, que significa o Dia da Ira, merece uma devida atenção. Alguns compositores expressam toda a dramaticidade da obra neste movimento, utilizando a música e o texto de forma ímpar para comover as pessoas. Se compararmos aos movimentos de uma sinfonia, poderíamos dizer que o Dies Irae seria justamente o quarto movimento, por concentrar toda a evocação musical da peça.

Mais foi no Classicismo e, posteriormente, no Romantismo que este gênero musical ganhou forças. Os réquiens mais famosos foram compostos pelo austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (K.626); o alemão Johannes Brahms; o compositor do romantismo francês, Louis Hector Berlioz; e o compositor de óperas do período romântico italiano, Giuseppe Fortunino Francesco Verdi.

Estruturado em sete grandes partes, “Um Requiem Alemão” ,de Brahms, foi composto entre os anos de 1865 e 1868. Nacionalista fervoroso, Brahms foi um evangélico da Igreja Luterana, o qual exprimiu em sua obra toda a seriedade e firmeza da sua crença. Já o exaustivamente interpretado Réquiem K.626, de Mozart, atravessa gerações sustentado sobre a sombra de um mistério, que já foi revelado. A encomenda desta obra foi feita pelo músico amador, o Conde Franz von Walsegg, que alterava as composições de consagrados músicos e afirmava que as peças eram de sua autoria, executando-as em seu castelo, em concertos privados.

Um réquiem brasileiro

Entretanto, outras missas fúnebres merecem destaque, como o réquiem de Johann Adolph Hasse, que foi um compositor do período barroco; e a obra “Ofício dos Defuntos de 1816” (Officium 1816) do padre José Mauricio Nunes Garcia, compositor brasileiro de música sacra que viveu a transição entre o Brasil Colônia e o Brasil Império. No entanto, conhecido por sua exímia interpretação do Réquiem de Mozart, Nunes Garcia deu um outro formato à sua peça, a qual apresenta características que as demais obras deste estilo não possuem. O “Ofício 1816” tem uma estrutura melódica mais leve se comparado aos réquiens dos compositores europeus, em especial, as composições alemãs, conhecidas por sua densidade. O padre Mauricio Nunes Garcia é conhecido por sua exímia interpretação do Réquiem de Mozart.

Na verdade, a música erudita brasileira não viveu todos os períodos da música bem marcados, como vivenciou as composições musicais do velho continente. Mesmo que aparentassem estruturas europeias, as músicas brasileiras, por volta de 1800, já recebiam as influências da cultura índigena e africana. O que se percebe em algumas obras sacras do Brasil Colonial são elementos do barroco, do classicismo e até do romantismo em uma mesma peça, o que deu às nossas músicas uma característa singular. Wellerson Cassimiro

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