17 de fev. de 2012

Trindade da Regência

Trabalho de Sylvio Lago revela o trio da condução de orquestras

Completo e analítico são as principais palavras para definir o trabalho de Sylvio Lago, “Arte da Regência”, um dos melhores livros que já li sobre a direção de corais e, em especial, orquestras. E com certeza, a leitura dessa obra é viciante. Ou melhor, instigante.

Além de seus próprios estudos, Lago traz à tona análises de famosos críticos de música e historiadores do universo da regência, como Harold Schonberg e Nikolaus Harnoncourt; além de expor trechos de cartas escritas pelos mais diversos compositores dos períodos da música e relatos de cantores solistas. O relato da cantora Wilhelmina Schröder-Devrien, por exemplo, faz uma revelação surpreendente sobre a condução orquestral de Beethoven diante de sua peça Fidelio. Sylvio Lago, revela, ainda, a existência da “Trindade da Regência” formada por Mendelssohn, Wagner e Berlioz, compositores-regentes que lançaram as bases da escola romântica de direção orquestral. Ainda, foi através desse trio que o conceito, a técnica e a essência da arte da regência atingiram o marco inaugural de um processo evolutivo do “Kapellmeister” (LAGO).

Dar asas a imaginação ou ser fiel à obra/compositor?

Entretanto, o ponto alto do livro é quando Lago escreve sobre a liberdade interpretativa dos diretores de orquestra versus a tentativa de recriar as ideias do compositor. Acredito ser este o maior desafio do “Chef d' orchestre” (LAGO) pós-moderno; seguir fielmente à partitura, obedecendo todas as indicações do compositor ou dar asas a imaginação e criar sobre a obra alheia um novo clima interpretativo, alterando andamentos, tempos e - para os mais ousados – modificar até mesmo a altura das notas.

Em “Arte da Regência”, Lago conta que Felix Mendelssohn-Bartholdy, compositor do período romântico, não hesitou em promover alterações na partitura, durante sua regência, no ano de 1829, na Sing Akademia de Berlim. As modificações foram sobre uma das maiores obras marco do período barroco: a “Paixão Segundo São Mateus”, do virtuose organista Johann Sebastian Bach. O criador da mais famosa e popular Marcha Nupcial cortou, recompôs e combinou efeitos, segundo Schonberg. Não obstante, outro fato importante desenvolvido no trabalho de Lago está ligado às técnicas de ensaios no plano orquestral e à regência de óperas, se revelando mais complexa do que as peças sinfônicas, por reunir elementos dos mais diversos gêneros da música. Wellerson Cassimiro

Um comentário:

Carlos Alexandre disse...
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