8 de dez. de 2008

Ocultos nas Cavernas Urbanas

Em um país onde a corrupção tinha tornado-se rotina e o jeito malandro era o modo principal de vida, havia uma cidade cercada por um mar de montanhas, onde transcorria um rio de águas pardas. Em suas terras deambulavam mentes insanas e confusas. Estes habitantes permaneciam trancados em sua ignorância, ocultos em suas cavernas particulares. A cidade havia escolhido a alienação como hábito. Seus moradores não queriam educação, apesar de abrigar várias faculdades.
Estavam no auge do século XXI, numa época em que, um simples celular possuía inúmeros recursos como, até assistir aos programas de televisão. Porém, temiam tudo o que era novo. Contraditório, não!? Estavam acostumados com o rudimentar. Até seus pensamentos eram óbvios e provincianos. O diferente era recusado. Por vezes, abandonado. Temiam o novo ou mesmo tempo em que eram amantes da tecnologia.
Mantinham relações hostis uns com os outros. Os anciãos não obtinham o respeito daqueles com menos experiência de vida. Estes cresciam de forma desvairada, sem receberem a educação de seus progenitores. Alguns habitantes não se preocupavam com seus resíduos e os desprezavam em qualquer lugar nas ruas e, às vezes, o lançavam pela janela do coletivo em andamento. Tais cidadãos vivam da auto-imagem, demonstrando ostentação e riqueza, que não possuíam. A moral e a ética já não existia. Cultuava-se a beleza e desprezava o bom caráter. Exaltava-se o fútil e o inútil. Os principais sentimentos eram a inveja e a cobiça. Apreciavam os plágios e, suas vestimentas eram réplicas umas das outras. Quase como um uniforme. Tudo era padronizado; roupas, atitudes e pensamentos.
Realizar uma simples caminhada pelo centro urbano era um jogo mortal. Os empurrões propositais eram inevitáveis. Talvez, estas pessoas não gostassem de estarem tão próximas. Muitas se viam, constantemente, dentro dos elevadores, nas portarias dos arranha-céus ou dentro dos coletivos. Todavia, não se cumprimentavam em momento algum. Nem um “Bom Dia!”, muito menos um “Tudo Bom?”. Em analogia ao Mito da Caverna, esta cidade era a própria caverna e, muitos não queriam sair da escuridão.
Riqueza e luxo conjugavam com a pobreza de atitudes. Atos de solidariedade? Somente em épocas natalinas. Como se os menos favorecidos só comessem nos meses finais do ano. Contudo, neste mesmo povoado, outras pessoas se destacavam por sua educação, desenvolvimento cognitivo e por atitudes originais. Estas poderiam ser reconhecidas nas ruas, pois brilhavam. Eram como estrelas. Ainda há esperança.

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