14 de out. de 2010

Fortuna, Imperatrix Mundi

UMA ANÁLISE DOS POEMAS MUSICADOS POR CARL ORFF


Considerada uma das obras-mestres do século XX, a Cantata Carmina Burana, do alemão Carl Orff, em seu primeiro movimento, faz uma alusão ao sistema sócio-econômico mundial. O capitalismo que esconde a sua dupla face. Ora, como sacro e bençoado. Ora, como um monstro usurpador de bens. Ele dá e tira. Emerge na forma de uma roda volúvel que, está em eterno movimento.

Escrita por monges e eruditos errantes, a Carmina Burana é uma coleção de 200 poemas encontrados em um pergaminho, no ano de 1803, na biblioteca de um antigo mosteiro, na Baviera Superior, sendo simbolizada por um elemento da antiguidade: a roda da Fortuna. Os poemas relatam as bênçãos e as maldições provindas da Fortuna; a imperatriz do mundo. Nos primeiros versos, os monges escrevem: “Ó Fortuna és como a Lua mutável, sempre aumentas e diminuis; a detestável vida, ora escurece e ora clareia por brincadeira a mente; miséria, poder, ela os funde como gelo”. Ainda em tempos remotos, estes eruditos pareciam revelar a futura estrutura econômica das sociedades ocidentais do terceiro milênio.

Em nossos dias, o dinheiro é líquido e instável. Ora, se ganha. Ora, se perde. Por vezes, parece abstrato e invisível. Ao mesmo tempo, que equilibra, se torna irregular. Aqueles que, hoje, exaltam sua felicidade sobre seus bens capitais, amanhã podem chorar ao ver sua virtude econômica esmorecer, atingida por uma forte mudança no mercado financeiro. O capitalismo se mostra como um grande carrasco, escravizando até mesmo os mais fortes.

Nos momentos de bem-aventuranças, a prosperidade reina absoluta. Sorte e virtudes estão sobre a sociedade que, se senta no trono da Fortuna. E, muitos investimentos são feitos, negócios empresariais são fechados e contratos são assinados. O consumo exacerbado é inevitável. Compram-se grandes casas, os carros populares dão lugar aos luxuosos automóveis importados e se testemunha uma corrida veloz aos templos do consumo. Adquire-se um pouco de tudo. Até mesmo, algo que será de irrelevância utilidade. Os produtos importados multiplicam-se nas prateleiras exterminando os produtos nacionais e, as viagens ao exterior tornam-se rotineiras.

Contudo, a roda da Fortuna está em movimento. E gira, impiedosamente. Despreparada, a sociedade desce desolada, chorando as chagas deixadas pela Fortuna. Os empréstimos e as dívidas se alastram no meio do empresariado. A fantasia dos longos prazos e crediários ilude os mais fracos. Em casos extremos, as pesadas portas das empresas são fechadas. Outrora, o trabalho é açoitado, restando ao homem um último sopro de vida do seu seguro desemprego. O consumo excessivo sai de cena e a palavra de ordem é economizar, preocupando-se em comprar somente o básico. Os números registrados pelas modernas máquinas do caixa parecem saltar aos olhos do mais simples ser humano. E, assim, a cruel roda do capitalismo, da Fortuna, da Imperatriz do mundo; continua girando, sem interromper o seu movimento, o seu ciclo vicioso e extasiante, proporcionando sorte e azar. Wellerson Cassimiro

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